ONDE ESTÃO AS MINAS NOS BASTIDORES DAS CAMPANHAS?
Tenho feito essa pergunta constantemente e, ao conversar com alguns colegas de trabalho, confirmei o que já presumia: é possível contar nos dedos de uma mão a presença das mulheres nos backstages, seja de uma campanha, uma gravação comercial, clipes, etc,. Caso ainda haja dúvidas a respeito do assunto, basta ler as fichas técnicas de alguma produção reconhecida e notar que: nós, mulheres, só estamos presentes nos bastidores das campanhas quando o assunto é maquiagem, cabelo, beleza ou qualquer outro patamar da estética, o famoso imaginário social do “toque feminino”. Cadê as mulheres do audiovisual e fotografia nos bastidores das campanhas? Onde elas, ou melhor, NÓS estamos?
Desde que a pandemia iniciou, decidi que queria segmentar meu trabalho para outra área, um trabalho mais liberal, que estivesse mais relacionado com o meu perfil, com a minha identidade pessoal e social. Diante dessa perspectiva, comecei a produzir fotos de tênis, chinelos e demais produtos de diversas marcas. Todas essas fotografias foram tiradas em casa, visto que estamos limitados a sair devido a pandemia. A partir dessa iniciativa, comecei uma (re)construção do meu portfólio: uma nova identidade e comunicação.
Refleti, pensei, planejei e, finalmente, iniciei projetos que buscam viabilizar tênis de marcas e, durante essa trajetória reconheci que quero seguir a área ligada ao esporte, na cena do skateboard, com marcas do mesmo estilo: Vans, Adidas, Nike, ÖUS, DC Shoes, Element, entre outras que são da cena do skate. Além de ensaios de moda com uma pegada street wear.
Vale ressaltar que, nenhum desses trabalhos possuem o famoso toque de “feminilidade”, o que não significa que eu ou qualquer outra mulher não queira ou possa estar presente na execução de um projeto. Contratar uma mulher para realizar esse tipo de trabalho representa a valorização da equidade de gênero, questão a qual é fundamental a ser pensado no momento de contratação. A capacidade é a mesma, a criatividade também, isso não pode ser afetado por gênero: “coisa de menino ou coisa de menina”, porque a luta pela equidade de gênero é uma pauta importante na contemporaneidade, ainda mais quando se trata de contratação no mercado de trabalho.
Campanhas voltadas inclusive para causas LGBTQIA+ são produzidas por homens. Independente da sexualidade deles, o ponto aqui é sobre ampliar o leque para quem não tem - ou tem pouquíssima -oportunidade no mercado de trabalho. Com tantas campanhas acontecendo, será que não seria possível abrir o leque e ampliar as chances de uma pessoa que vive aquela causa, fotografe ou filme?
Aqui é uma campanha voltada a mulheres e, pasmem, quem produziu não foi uma.
Vale dizer que eu não tenho nada contra os fotógrafos supracitados, não deixei o sobrenome para não parecer que é "hate", mas o quis compartilhar o que eu vejo na maioria das fichas técnicas, até mesmo quando o objetivo da campanha é falar sobre diversidade, sem dar espaço para outres profissionais, entendem?!
No final, tem trabalho para todo mundo, mas a nossa sociedade é extremamente machista e preconceituosa, a galera da comunicação precisa ir além do 'Quem Indica' e refletir sobre o que realmente faz sentido para cada trabalho.
Infelizmente, sabemos que na prática muitas empresas e agências não exercem o que comunicam e a “falsa apresentação” gera quebra de expectativas, consequentemente, o desgaste é gigante.
Por fim, gostaria de saber: onde estão as mulheres nos bastidores das gravações, campanhas, produções?
Texto e imagens por: Suellen Scanavini.
Revisão: Larissa Gregorut.